segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Vereador Capá assina manifesto em favor do MST


 Manifesto em defesa do MST 

“...Legitimam-se não pela propriedade, mas pelo trabalho, nesse mundo em que o trabalho está em extinção. Legitimam-se porque fazem História, num mundo que já proclamou o fim da História. Esses homens e mulheres são um contra-senso porque restituem à vida um sentido que se perdeu...” (“Notícias dos sobreviventes”, Eldorado dos Carajás, 1996).

A construção da democracia no Brasil exige, há trinta anos, enormes sacrifícios das classes trabalhadoras. Desde a reconstrução de suas organizações, destruídas por duas décadas de repressão da ditadura militar, até a invenção de novas formas de Movimentos e de lutas capazes de responder ao desafio de enfrentar uma das mais desiguais sociedades do mundo. O que também implica apresentar aos herdeiros da cultura escravocrata de cinco séculos, os trabalhadores da cidade e do campo como cidadãos e como participantes legítimos não apenas da produção da riqueza do país como ocorreu desde sempre, mas também como destinatários na partilha da riqueza produzida.

O ódio das oligarquias rurais e urbanas não perde de vista um único dia, um desses novos instrumentos de luta criados pelos trabalhadores brasileiros a partir de 1984: o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST. E esse Movimento paga diariamente com suor e sangue – como ocorreu há poucos dias no Rio Grande do Sul, pela sua ousadia de questionar um dos pilares da desigualdade social no Brasil: o monopólio da terra. O gesto de levantar sua bandeira numa ocupação se traduz numa frase simples de entender e, por isso, intolerável aos ouvidos dos senhores da terra e do agronegócio. Um País, onde 1% da população tem a propriedade de 46% do território, defendida por cercas, agentes do Estado e matadores de aluguel, não podemos considerar uma República, e menos ainda, uma democracia social.
    
A Constituição de 1988 determina que os latifúndios improdutivos e terras usadas para a plantação de matérias primas para a produção de drogas devem ser destinados à Reforma Agrária. Mas, desde a assinatura da nova Carta,  os sucessivos Governos têm negligenciado o seu cumprimento. À ousadia do MST de garantir esses direitos, pressionando as autoridades através de ocupações pacíficas conquistados na Constituição, soma-se outra ousadia, igualmente intolerável para os senhores do grande capital do campo e das cidades: a disputa legítima e legal do orçamento público.

Em quarenta anos, desde a criação do INCRA (1970), cerca de um milhão de famílias rurais foram assentadas. Mais da metade, entre 2003 e 2008. Para viabilizar a atividade econômica dessas famílias, para integrá-las ao processo produtivo de alimentos e divisas no novo ciclo de desenvolvimento, é necessário travar a disputa diária pelos recursos públicos. Daí resulta o ódio dos ruralistas e outros setores do grande capital, habituados desde sempre ao acesso exclusivo aos créditos, subsídios e ao perdão periódico de suas dívidas.
     
O compromisso do Governo de rever os critérios de produtividade para a agricultura brasileira, responde a uma bandeira de quatro décadas de lutas dos movimentos dos trabalhadores do campo. Ao exigir a atualização desses índices, os trabalhadores do campo estão apenas exigindo o cumprimento da Constituição Federal e que os avanços científicos e tecnológicos ocorridos nas últimas quatro décadas, sejam incorporados aos métodos de medir a produtividade agrícola do nosso país.

É contra essa bandeira que a bancada ruralista do Congresso Nacional reage atacando o MST. Como represália,  buscam, mais uma vez,  articular a formação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra o MST. Seria a terceira em 5 anos. Se agricultura brasileira é tão moderna e produtiva, como alardeia o agronegócio, porque  temem tanto a atualização desses índices? E, por que não é criada uma única CPI para analisar os recursos públicos destinados às organizações da classe patronal rural?

O que ocorreu ao longo desses quarenta anos no campo brasileiro em termos de ganho de produtividade? Quanto a sociedade brasileira investiu para que uma verdadeira revolução – do ponto de vista de incorporação de novas tecnologias – tornasse a agricultura brasileira capaz de alimentar nosso povo e se afirmar como uma das maiores exportadoras de alimentos? Quantos perdões da dívida agrícola foram oferecidos pelos cofres públicos aos grandes proprietários de terra, nesse período? 

O ataque ao MST extrapola a luta pela Reforma Agrária. É um ataque aos avanços democráticos conquistados na Constituição de 1988 – como o que estabelece a função social da propriedade agrícola -  e contra os direitos imprescindíveis para a reconstrução democrática do nosso País. É, portanto, contra essa reconstrução democrática que se levantam as lideranças do agronegócio e seus aliados no campo e nas cidades. E isso é grave. E isso é uma ameaça não apenas contra os movimentos dos trabalhadores rurais e urbanos, como para toda a sociedade. É a própria reconstrução democrática do Brasil, que custou os esforços e mesmo a vida de muitos brasileiros, que está sendo posta em xeque. É a própria reconstrução democrática do Brasil, que está sendo violentada.
     
É por essa razão que se arma, hoje, uma nova ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade contra o Movimento dos Sem Terra – seja no Congresso Nacional, seja nos monopólios de comunicação, seja nos lobbies de pressão em todas as esferas de Poder. Trata-se, assim, ainda uma vez, de criminalizar um movimento que se mantém como uma bandeira acesa inquietando a consciência democrática do país: a nossa democracia só será digna desse nome quando incorporar todos os brasileiros e lhes conferir, como cidadãos e cidadãs, o direito a participar da partilha da riqueza que produzem ao longo de suas vidas, com suas mãos, o seu talento, o seu amor pela pátria de todos nós.

CONTRA A CRIMINALIZACÃO DO MOVIMENTO DOS SEM TERRA.
PELO CUMPRIMENTO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUE DEFINEM AS TERRAS DESTINADAS À REFORMA AGRÁRIA.
PELA ADOCÃO IMEDIATA DOS NOVOS CRITÉRIOS DE PRODUTIVIDADE PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA.

Brasília, 21 de setembro de 2009.            

Pedro Tierra,
Osvaldo Russo,
Plinio arruda sampaio
Eduardo Galeano,
Fabio Konder Comparato
Heloisa Fernandes


Noam Chomsky
István Mészáros, Hungria, filósofo
Eduardo Galeano, Uruguai, escritor
Antônio Cândido, crítico literário, USP

Leandro Konder, filósofo, PUC-RJ
Alípio Freire, escritor
Fábio Konder Comparato, jurista, USP e Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra
Fernando Morais, jornalista e escritor
Dr. Jacques Alfonsin, jurista, Porto Alegre
Altamiro Borges, PCdoB
Nilo Batista, jurista
Alberto Broch, Presidente da CONTAG
Artur Henrique, Presidente da CUT
Augusto Chagas, Presidente da UNE
Bartira Lima da Costa, Presidente da CONAM
Ivan Pinheiro, secretario geral do PCB
Ivan Valente, Deputador Federal PSOL/SP
José Antonio Moroni, diretor da ABONG e do INESC
José Maria de Almeida, CONLUTAS, presidente do PSTU
Nalu Faria, coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista – SOF e integrante da executiva nacional da Marcha Mundial das Mulheres.
Paulo Pereira da Silva, Deputado Federal PDT-SP e presidente da Força Sindical
Renato Rabelo, presidente do PcdoB
Renato Simões, Secretário de Movimentos Populares do PT
Roberto Amaral, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, Secretário Geral do PSB
Sérgio Miranda, PDT-MG
Valter Pomar, Secretário de Relações Internacionais do PT
Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
Dom Ladislau Biernaski, Presidente da CPT
Dom Pedro Casaldáliga, Bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia – MT
Dom Tomás Balduino, conselheiro permanente da CPT
Frei Betto, escritor
Leonardo Boff, escritor
Reverendo Carlos Alberto Tomé da Silva, TSSF, Anglicano, Capelão Militar
Miguel Urbano, Portugal, jornalista
Anita Leocádia Prestes, historiadora, UFRJ
Beth Carvalho, sambista
Adriana Pacheco, Venezuela, ViveTV
Adelaide Gonçalves, historiadora, UFCE
Ana Esther Ceceña, UNAN
Antonio Moraes, Federação Única dos Petroleiros - FUP
Associação Brasileira de ONG's – ABONG
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF)
Chico Diaz, ator
Cândido Grzybowski - IBASE
Comitè italiano de apoio ao Movimento Sem Terra (Amigos MST-Italia)
Antônio Carlos Spis, CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais)
Dora Martins, juíza de direito, e presidenta da Associação de Juízes pela Democracia
Emir Sader, sociólogo, LPP/UERJ
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB)
Hamilton de Souza, jornalista, PUC-SP
Heloísa Fernandes, socióloga, USP e ENFF
Jose Arbex, jornalista, PUC-SP
Maria Rita Kehl, psicanalista, São Paulo
Osmar Prado, ator
Paulo Arantes, filósofo, USP e ENFF
Vandana Shiva, Índia, cientista
Virginia Fontes, historiadora, UFF/Fiocruz
Vito Gianotti, jornalista e historiador, Núcleo Piratininga de Comunicação - Rio de Janeiro
Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu (PT/RJ)
Chico Alencar, Deputado Federal (PSOL/RJ)

Um comentário:

  1. José Francisco Rangel24 de outubro de 2009 às 06:59

    Como brasileiro me sinto envergonhado de ver, PESSOAS ESCLARECIDAS, apoiando movimentos clandestinos (MST) que estão na contramão para um desenvolvimento sócio-econômico de um país. O que queremos apoiando um grupo, muito parecido com as FARCs, ideológico, que querem implementar linhas bolivarianas em um país que tem tudo, E JÁ É, O MAIOR PRODUTOR DE GRÃOS, PRODUTOR DE PROTEÍNAS E PRODUTOR DE BIOCOMBUSTÍVEIS.
    CHEGA DESTA PALHAÇADA, temos que implodir movimentos "fantoches" e que atuam na clandestinidade !!
    Temos que olhar os ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE nas áreas onde estão "trabalhando" as pessoas que receberam terras para produzir !!!

    José Francisco Rangel
    Agência de Desenvolvimento de São Borja/RS

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